quinta-feira, 14 de julho de 2011

Caro Moacir Pereira


É com profundo pesar que me dirijo a ti nessa noite.
Entristecido, desiludido, em completa descrença nas instituições catarinenses que deveriam ser os pilares da democracia no Estado, mas que hoje provaram de forma incontestável estar a serviço da politicagem suja e do corporativismo.
O que se viu hoje na Alesc foi um dia vergonhoso. Dia 14/07/11: o dia da vergonha do Legislativo Catarinense.
Com raras exceções, os deputados se curvaram à caneta do Executivo como lacaios vulgares. Seus rostos vazios, expressões e palavras ensaiadas, homens sem brio e sem autoestima. Entregues aos conchavos de bastidores, alinhavados em jantares financiados pelo dinheiro público. Almas perdidas, gente que certamente foi criada por pais dignos e decentes, mas que na data de hoje foram contra tudo o que conheceram no passado.
Numa tarde infeliz, deitaram por terra o que poderia haver de honroso em suas carreiras e suas biografias. Em rápida votação, destruíram os sonhos e as vidas de milhares de famílias. Professores em atividade ou aposentados, todos foram traídos por uma classe de funcionários públicos que deveriam protegê-los. Os deputados deram claro recado aos funcionários em Educação no que tange a consideração por eles e seus esforços em formar um futuro para o Estado de Santa Catarina: nenhuma. Ato vergonhoso. Os “nobres” deputados da base aliada deixaram claro para toda a sociedade: professor deve ganhar pouco, trabalhar desmotivado e em escolas caindo aos pedaços. Não lhes importa que o Supremo Tribunal Federal, maior instancia judicial do país ache diferente. A corte de lacaios Raimundianos está ao (de) serviço da sociedade. Quanto mais “burros” e alienados forem os cidadãos, melhor para eles. Desculpe o termo grosseiro, mas o dia de hoje não deixou dúvidas da intenção governista. Mas, vale lembrar Rui Barbosa:“As leis que não protegem nossos adversários não podem proteger-nos.” O autoritarismo é perigoso para todos, sem exceção.
Espero que os professores e o SINTE consigam se reorganizar. E espero que a turma que abandonou a paralisação na ocasião da última assembleia estadual, perceba agora aquilo que o governo fez com eles e o que conseguiu alcançar com sua saída do movimento. Com o afastamento dos companheiros do oeste, o governo conseguiu pavimentar o caminho para a PLC 026, que na época da assembleia estadual, estaria já pronta para envio a Alesc. Mas o governo precisava de um motivo, uma desculpa, um erro dos grevistas para enviá-la ao plenário. Com a divisão do SINTE e o enfraquecimento do movimento, conseguiu. Justificou-a com o nosso erro. Não que precisasse angariar apoio de mais deputados, porque iniciou o ano de 2011 já com ampla maioria, mas porque queria legitimar o envio da 026. E foi com a divisão do movimento que o conseguiu. Prova disso foi a fala do deputado governista Darci de Matos na tarde de ontem: debochadamente, zombou dos professores ao questioná-los acerca de com quem o governo deveria negociar agora. Com o Sinte ou com algum partido político. Foi vaiado exemplarmente. Com certeza Darci de Matos nunca leu a biografia de Benjamin Franklin: “O orgulho que almoça vaidade janta desprezo.”
Se podemos afirmar que os deputados deram aula de descaso com a cidadania na data de hoje, também é verdade que a classe dos professores tem diante de si o último, oportuno e derradeiro momento de dar a sua aula, irretocável, de verdadeira cidadania.
Para tal é imperativa a inteira, completa e indivisível união da classe. Para que possam voltar a orgulhar-se dos títulos que possuem, os professores precisam de união. É hora de parar de sonhar com dias melhores e voltar à ação. Que se convoque nova assembleia estadual e que venham os bravos lutadores de todos os cantos do estado. Não importa em que palco seja, no litoral, no meio-oeste ou no extremo oeste, uma nova assembleia estadual deve ser o reencontro feliz de parceiros de luta, na reafirmação de ideias e ideal comum. Os professores do litoral estão dispostos a ir aonde for determinado, em busca dessa comunhão tão necessária. O importante é demonstrar a sociedade que os mestres, em todo o estado, não estão de braços cruzados para a batalha e muito menos caminhando em direção à ratoeira, como desejam alguns. Professores merecem respeito e admiração. E não desprezo e deboche. Ao fortalecerem o movimento reivindicatório, correto e justo, os docentes estarão proporcionando a seus alunos efetiva aula de cidadania e observância as leis. De nada adianta voltar para as salas de aula em pseudo-cidadania. A cidadania não é concedida e sim, conquistada. Quanto maior a luta, melhor o sabor da vitória. Se nos querem subjugados é porque sabem do nosso valor. Como dizia o nobre senador Roberto Campos, já falecido “A velocidade da flecha dignifica o alvo”.

Precisamos que nos convençam disso?
Quanto ao valoroso jornalista, meu muito obrigado. No início da greve, em meu primeiro post em seu blog, disse-lhe:
“(...) Moacir Pereira não nos conhecia e também nós não sabíamos de ti. Mas a partir da reflexão que fizeste depois de debate com um professor que te proporcionou vislumbrar as mazelas e desmandos na Educação, percebeste a nossa penosa situação. Nós ganhamos um amigo e Moacir Pereira ganhou milhares.”
É hora de darmos um breve até logo, tens razão. Mas volte assim que possível, porque amigos de verdade sentem falta de uma boa conversa.
Boas férias e tenha um merecido descanso. Que Deus conserve a ti e tua família. E é claro, muito obrigado por tudo. De verdade.
Marco A. Pereira
Professor – com muito orgulho

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